Lilith, John Collier (1892). |
O livro de
Gênesis é bastante debatido em seus primeiros capítulos que se referem à criação
humana. Existem questionamentos quanto ao termo “à nossa imagem e semelhança”
estar no plural e não no singular, outros questionam a criação do homem ter
sido feita do barro, ou o porquê de Eva ter sido feita da costela de Adão. Mas
uma questão incomum é a presença de uma figura feminina chamada Lilith no
momento da criação do ser humano, fato tão presente na cultura judaica (e também
no folclore hebreu, na mitologia Suméria entre outros lugares), porém tão
negligenciada pela versão atual da Bíblia Sagrada. Nos dias atuais, Lilith só é
citada uma vez na Bíblia, em Isaías 34:14 (ver comentário a respeito ao longo
do texto), e mesmo assim, só em versões mais antigas das escrituras.
Decidi então pesquisar
mais sobre essa criatura, e descobri algumas coisas interessantes, para alguns
até inquietantes. Mas desde já, lá vai um aviso aos navegantes: essas são
teorias (conspiratórias?) que não podem ser provadas, e bem como a Bíblia, é
uma questão de se acreditar ou não. E mesmo se acreditando nela, ao meu ver, não
muda em nada as bases da fé cristã, mas sim abre nossas cabeças para o fato de
que pode existir um mundo de outros acontecimentos que não foram colocados (agrupados)
na Bíblia que temos atualmente. Todavia, ao meu ver, isso não é suficiente para
mudar ou desacreditar o teor que as escrituras nos ensinam. Então, antes de ler
o texto a seguir, tenha sabedoria, discernimento e principalmente respeito aos
que acreditam (ou não) nas escrituras. Leiam, tirem suas próprias conclusões,
mas tenham em mente que tudo aqui são suposições que se fossem provadas, não
mudariam o sentido da vida. Então, sem crises existenciais, okay?
Lilith, ou Lilit
(em hebraico:
לילית) é principalmente conhecida como um demônio
feminino da mitologia Babilônica que habitava lugares desertos. Os primeiros
registros que se tem dela é sob o nome Lilitu, representando uma categoria de
demônios na Suméria de 3000 A.C. Na Suméria e na Babilônia ela ao mesmo tempo
que era cultuada, era também identificada como espírito maligno. Muitos
estudiosos atribuem a origem do nome fonético Lilith por volta de 700 A.C., e
com este nome é referida em diversos textos antigos sendo o mais notável o Antigo
Testamento (livro de Isaías). Porém uma teoria interessante é a de que
Lilith tenha sido uma mulher criada por Deus antes de Eva, simultaneamente à
criação de Adão e inclusive da mesma forma que ele foi criado (do barro). Ou
seja, Lilith pode ser sido a primeira esposa de Adão, antecessora a Eva.
“Criou,
pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Gênesis 1:27.
Porém, no
capítulo seguinte, Deus percebe que Adão está sozinho (novamente?) e seria bom
criar para ele uma mulher (outra?), e interessante, que seja idônea (a outra
não era?):
“Disse
mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora
que lhe seja idônea.” Gênesis 2:18.
A confusão interpretativa
si dá a partir do momento em que Deus cria o homem (ser humano) no capítulo 1, fazendo-o
macho e fêmea, e logo depois no capítulo 2, Ele cria uma (outra?) mulher, não
mais do mesmo barro, mas agora da costela de Adão:
"E
da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a
para junto do homem.". Gênesis 2:22
Dessa forma, é
possível imaginar que uma edição (corte) possa ter sido feita entre o capítulo
1:28 e o capítulo 2:21. É provável que este corte tenha ocorrido em época
bastante remota, como no quarto século antes de Cristo, quando se supõe que o
texto escrito tomou uma forma próxima da atual. O capítulo 1:28 sustenta ainda mais esta hipótese:
"E
Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a
terra ..." Gênesis 1:28
Como seria
possível abençoar a ambos e recomendar a multiplicação se Eva ainda não tinha
sido criada (só foi criada no capítulo 2)? E o caso fica ainda mais estranho no
versículo seguinte, na criação da (segunda) mulher criada da costela, quando
Adão parece gostar da (nova) mulher criada e faz um comentário bem peculiar:
"Disse
então o homem: Esta sim (ou ‘agora sim’, em algumas versões), é osso dos meus ossos e carne
da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada." Gênesis 2:23
Assim, acredita-se
que essa afirmação de Adão é uma das provas da existência de outra fêmea criada
antes de Eva, que provavelmente não era carne da sua carne. Tendo, a mulher
anterior, sido criada do mesmo barro que ele, seria assim igual, e não inferior
a Adão.
Lilith é muito conhecida na
cultura (folclore?) judaica (o). Segundo eles acreditam, a mulher criada do
barro juntamente com Adão se mostrou indomável, maléfica e teria deixado a
presença de Adão, e então expulsa do Paraíso. Algumas vezes ela é tida como a
serpente que teria tentado (seduzido?) Eva, a mulher que teria casado com Caim
(Gênesis 4:17), uma vampira, uma sedutora que castrava os homens que seduzia, e
por fim, um bicho maléfico ou animal noturno, termo encontrado nas traduções
recentes da Bíblia (Isaías 34:14).
Por sinal é neste versículo em Isaías onde o nome Lilith é citado unicamente na
Bíblia atual. Mesmo assim, mais recentemente, teria sido trocado por coruja (em inglês) ou (como aqui no
Brasil) animal noturno. Acredita que durante o Concílio de Trento
(ou muito antes disso), a Igreja Católica retirou as menções a Lilith do
Gênesis, e teria deixado seu nome passar apenas nesse versículo em Isaías (como
na versão de J. N. Darby
abaixo).
“As feras do deserto se
encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e
acharão lugar de repouso para si.”
Isaías 34:14 – Versão Almeida Corrigida.
Isaías 34:14 – Versão Almeida Corrigida.
“The wild beasts of the desert
shall also meet with the wild beasts of the island, and the satyr shall cry to
his fellow; the screech owl (coruja que grita) also
shall rest there, and find for herself a place of rest.” Isaías 34:14 –
Versão King James.
“And there shall the beasts of
the desert meet with the jackals, and the wild goat shall cry to his fellow;
the lilith also shall settle there,
and find for herself a place of rest.”
Isaías 34:14 – Versão John Nelson Darby.
Isaías 34:14 – Versão John Nelson Darby.
.
Acredita-se que o motivo da
Igreja Católica ter suprimido a criação (e posterior rebelião) de Lilith seria
uma das tantas tentativas da igreja de dar o tom patriarcal (machista?) às
escrituras. Deixando claro o lugar da mulher de submissa, abaixo
hierarquicamente ao homem. Sem contar que deixar passar uma criação, tal qual a
de Adão, e que não deu certo, que acabou se rebelando pelo próprio criador e se
tornando um demônio, uma maldita, não seria muito “católico”, por assim dizer.
“Deus teria criado um casal: Adão e uma mulher que antecedeu a Eva. Esta mulher primordial teria sido Lilith, figura bastante conhecida da antiga tradição judaica. Lilith não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de reivindicar igualdade foi a de recusar a forma de relação sexual com o homem por cima. Por isso, fugiu para o Mar Vermelho. Adão queixou-se ao Criador, que enviou três anjos em busca da noiva rebelde. Os três anjos eram Sanvi, Sansanvi e Samangelaf. Os emissários do Senhor tentaram em vão convencer à fujona. Ameaçaram afogá-la no mar. (...) Lilith foi transformada em um demônio feminino, a rainha da noite, que se tornou a noiva de Samael, o Senhor das forças do mal. (...) Lilith seria uma figura sedutora, de longos cabelos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os homens que dormem sozinhos. As poluções noturnas masculinas podem significar um ato de conúbio com a demônia, capaz de gerar filhos demônios para a mesma. As crianças recém-nascidas são as suas principais vítimas. A crença em Lilith, durante muito tempo, serviu para justificar as mortes inexplicáveis dos recém-nascidos. (...) Finalmente, uma outra tradição judaica afirma que a lendária rainha de Sabá que teria visitado Salomão nada mais era do que Lilith. O sábio rei, contudo, descobriu o ardil, ao levantar a saia da rainha e constatar que as suas pernas eram peludas.” Jardim do Éden revisitado, Roque de Barros Laraia.
Sendo Lilith realmente uma
criação de Deus, a primeira mulher de Adão, ou apenas mais um ser demoníaco citado
na Bíblia, o importante é salientar (mais uma vez) que isso não muda em nada o
fato de existir um Deus supremo criador. O problema é que com o tempo, viemos
modificando as escrituras, e interpretando-a de uma forma que coloca a figura
de Deus de um lado e Satanás do outro como seu único arque rival. O que possivelmente
está errado. Vários são os seres que lutam contra Deus e seus anjos, e Lilith
(criação dEle ou não, deixando claro que Satanás – Lúcifer – também é criação
de Deus) pode ser apenas mais um desses seres das trevas.
"Além dos
demônios que povoavam e aterrorizavam a terra, alguns personalizados, como
Azazel (Lev 16:9), Lilith (Is 34:14), Asmodeu (Tob 3:8), entre outros, o Deus
hebraico tinha oponentes em sua própria corte, dos quais o mais célebre é
Satã." O tempo que os homens ensinaram segredos aos homens, Emanuel
Araújo.
“Porque não temos que lutar contra a carne e
o sangue, mas, sim, contra os principados,
contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da
maldade, nos lugares celestiais.” Efésios 6:12
Sendo assim, entra aqui um gancho
sobre estes seres das trevas que desobedecem ao Senhor Deus e aterrorizam, ensinam
o que não devem, copulam e corrompem o homem. Seres como Lilith, que um dia foram
criados por Deus e que por conta do livre arbítrio, preferiram cair e vagar
(não só) pela Terra na busca de quem tragar. E nesta busca vem também o
conhecimento que Deus julgou não ser pertinente a nós e que esses seres
decidiram nos ensinar como forma de atentar contra o Senhor. Leiam mais a
respeito dos “Segredos dos Ceús” no próximo post!
Aldrêycka Albuquerque
FONTES: